Conviver e viver com naturalidade no século XXI
Minhas experiências profissionais têm me despertado questionamentos quanto ao conceito do que é “ser natural” atualmente. Como o assunto vem num crescente dentro de minhas percepções, resolvi expô-lo através desse texto.
No contexto da reprodução humana assistida com o qual convivo é comum me flagrar refletindo sobre o empenho instintivo das pessoas na busca pelo ciclo natural da vida __ pois ter filhos faz parte da natureza humana __, cuja maioria está apta a procriar e a dar continuidade à sua espécie. Mas, se por um lado há pessoas que engravidam sem qualquer planejamento, com a maior facilidade, por outro lado há um grupo especifico que é pego de surpresa quando se deparam com a dificuldade em engravidar naturalmente, sendo bombardeadas de sentimentos conflitantes e difíceis.
Consideradas as opções disponíveis nesse campo, decorrentes do avanço das pesquisas científicas e tecnológicas, da mesma forma que dispomos e usufruímos, já há algum tempo, de métodos anticoncepcionais, há pouco também passamos a contar com o novo e poderoso método de reprodução assistida para ampliar a possibilidade das mulheres de engravidar e conceber seus próprios filhos.
Ora, esse é apenas mais um recurso da medicina desenvolvido com o intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas, dentro de possibilidades específicas. Contudo, a reprodução assistida não deve ser entendida como um suporte fácil e “natural” na condução de seus projetos individuais relativamente à procriação, já que podem ser surpreendidos por resultados negativos e tentativas fracassadas de concepção, sendo consumidas por questionamentos contraditórios. Nessas situações, a força emocional é tão impactante e intensa, mas as pessoas tentam reagir de maneira indiferente a tal fato para não causar estranheza à sociedade. Afinal, somos condicionados a não expor nossos reais sentimentos para não parecermos frágeis ou suscetíveis aos olhos do mundo.
Esse tipo de comportamento está tão arraigado na nossa cultura que é possível ilustrar com situações comuns do dia a dia para se estabelecer um exemplo paralelo. Ora, em função das constantes ondas de violência presentes no cotidiano, atualmente as pessoas reagem a assaltos e a outros tipos de coação física ou moral como se tivessem que estar prontas para viver com “naturalidade” esse tipo de situação, pois, em eventos como esses, é frequente ouvirmos expressões como “um assalto pode acontecer com qualquer um” ou “poderia ter sido pior”, ao invés de vermos exposto o sentimento natural de indignação nesses casos.
É importante salientar, contudo, que quando racionalizamos essas situações, banalizamos nossos sentimentos e não olhamos o essencial: agimos porque sentimos. É imprescindível dirigir cuidados especiais às nossas emoções, pois toda vez que deixamos de acolhê-las ignoramos a nossa própria individualidade e autenticidade natural.
Por fim, o que queremos para nós? Como agimos e como nos expressamos para o mundo? Como somos naturalmente vistos? Afinal, é tudo uma questão de essência.
